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Neuriberg Dias

O efeito rally é um fenômeno político pelo qual líderes nacionais registram aumentos de popularidade diante de crises externas, especialmente quando há uma percepção de ameaça à soberania do país. No Brasil, esse fenômeno se manifestou em julho de 2025, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A medida foi interpretada como retaliação ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo Jair Bolsonaro, além da postura assumida pelo governo Lula no cenário geopolítico internacional.

A resposta do presidente Lula — marcada por discursos enfáticos em defesa da soberania nacional e da proteção da economia brasileira — gerou repercussão positiva na opinião pública. Pesquisas indicaram que a aprovação do presidente subiu de 40% para 43% em apenas uma semana, configurando um clássico caso de efeito rally. A mobilização da base aliada, o tom firme adotado contra os Estados Unidos e a cobertura midiática favorável reforçaram a imagem de um presidente combativo e comprometido com os interesses nacionais, mesmo em um contexto interno adverso — caracterizado pela derrota no Congresso com a derrubada do decreto sobre o IOF e pelas crescentes críticas à condução das contas públicas.

O episódio ilustra como conflitos externos, quando politicamente bem gerenciados, podem reverter cenários de desgaste e fortalecer, ainda que temporariamente, a autoridade presidencial. Contudo, esse tipo de impulso tende a ser efêmero. Sua sustentação depende da capacidade do governo de manter a narrativa de liderança e apresentar resultados concretos. No caso brasileiro, embora a crise diplomática com os EUA tenha revitalizado a imagem de Lula, os desafios estruturais permanecem.

De um lado, o campo bolsonarista apresenta sinais de desarticulação, impactado pelo desgaste jurídico de seu principal líder, enquanto setores mais conservadores buscam reconstruir seu discurso. De outro lado, as pressões por responsabilidade fiscal, os entraves econômicos e a relação desgastada com o Congresso continuam a comprometer a governabilidade e dificultar a implementação de medidas estratégicas do governo.

No contexto internacional, o Brasil, membro dos BRICS — grupo que reúne Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países emergentes —, possui capacidade limitada de reação frente aos Estados Unidos. Em questões comerciais específicas, o bloco não atua como uma união integrada. Vários membros já avançaram em negociações bilaterais com os EUA: a Indonésia concluiu um acordo; China e Índia estão em fases avançadas de tratativas. O Brasil, por sua vez, deverá iniciar seu próprio processo de negociação, o que poderá amplificar os efeitos políticos dessa decisão, independentemente da postura do presidente americano.

O episódio brasileiro de 2025 configura um exemplo claro e atual da aplicação do efeito externo na política. A reação nacionalista às tarifas impostas por Trump serviu para recompor, no curto prazo, a imagem do presidente. No entanto, seu impacto duradouro dependerá de uma mudança efetiva na condução política, econômica e institucional. Para Lula, trata-se não apenas de um respiro político, mas de uma oportunidade estratégica para transformar o apoio circunstancial em uma base sólida e consistente — fundamental para a conclusão do mandato e para seu posicionamento no cenário eleitoral de 2026.
*Jornalista, analista político e Diretor de Documentação do DIAP. Sócio-diretor da Contatos Assessoria Política.

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